Se alguém perguntar para você o que significam as angústias e as dores do mundo moderno na vida de um millenial, é possível que o filme A Pior Pessoa do Mundo o ajude a explicar como poucos. A obra retrata cinco anos da vida de Julie (Renate Reinsve), uma jovem mulher à beira dos trinta anos com dificuldades para encontrar seu lugar no mundo. Ela muda de carreira e cabelo com frequência, entra e sai de relacionamentos, mas a sensação incômoda de insatisfação a acompanha sempre. A Pior Pessoa do Mundo cobre as transições na vida de Julie de modo extraordinariamente realista e sensível. É uma rara obra de arte que ilustra com esplendor as agruras de uma geração sem rumo e indecisa, fruto de uma pressão assustadora imposta pelas expectativas geradas e pela sociedade. A sensação ao assistir à trama é a de que alguém escutou suas conversas íntimas e jogou tudo na tela: por que estou sempre angustiado? Por que o tempo passa tão rápido e que caminho eu devo seguir? Conseguirei sobreviver a tanta dor? Reinsve tem uma atuação deslumbrante e magnética, tornando Julie um imã para o olhar do público – não a toa ganhou como Melhor Atriz no Festival de Cannes por sua atuação. A protagonista é uma figura sempre prestes a entrar em ebulição, nessa obra que retrata o limbo entre o hedonismo juvenil e a esperada maturidade da idade adulta. É um filme terno e orgânico, que escancara que nunca saberemos se os caminhos que escolhemos foram os melhores, e por isso é profundamente relacionável. Uma película que é uma experiência devastadora, que faz rir, chorar e gritar – às vezes os três ao mesmo tempo, e merece ser assistida pois conta com os dois pés no mundo contemporâneo. Se você acha difícil ser tocado de forma genuina por filmes modernos, dê uma chance À Pior Pessoa do Mundo: é o raro tipo de obra que possivelmente te deixará sem palavras quando os créditos rolarem.